"São duas horas da manhã e eu ainda estou seguindo o plano. Sim, eu agora tenho um plano e uma certa fé de que ele dê certo. Dormir é absolutamente impossível, estou exaltada e angustiada, e com vontade de escrever trezentas páginas sobre tudo o que pensei na última semana.
Li e reli sobre o Returno de Saturno. Tenho apenas 24, e não 28 ou 29, mas o que importa? Eu cresci sendo precoce, e talvez a tal fase das grandes decisões chegue antes para mim. Ou quem sabe eu nunca tenha saído realmente dela, porque estou sempre decidindo e traindo o que decidi.
Confiro a lista: memória, celular desligado, jornal na TV, estômago em ordem. E apesar me sentir animada como um velho sentado numa praça em dias de calor, tento festejar a surpreendente meta cumprida: hoje deu tudo certo".

trecho...

"Dói quando você me olha, eu sei. Porque você associa. Minha imagem é a monalisa da ala da loucura, da ala do erro, e olhar tantos quadros desfigurados te causa náuseas. Mas não era ali que eu deveria estar pendurada. Não, eu sei que não. E Clara também sabe. Para ela, sou maçã, peras e bananas num vaso de cerâmica sobre a mesa".

Entre o completo
E o que nunca vai ser
Era lá que nós estávamos
Eu e você
No meio das coisas inteiras
E das despedaçadas
Era lá que nós estávamos
Entre as saídas e as entradas
No fim do que me lembro
E do que já não localizo
Era lá que nós estávamos
Entre o que abandono
E o que ainda preciso

trecho...

"Mas quando olhei para Clara, senti frio. Ela estava chovendo muito, e eu não havia trazido capa ou guarda-chuva. Comecei a tremer e a sentir os pingos deslizando pela testa, borrando minha maquiagem. Quando tive a sensação de estar encharcada até os ossos, lembrei que Clara definitivamente era muito mais água do que eu podia suportar, e resolvi te abandonar ali naquela tempestade.
Depois, com remorso, temendo pela tua saúde e lamentando teu penteado desfeito, te procurei. Mas é claro que você estava bem: Clara só chovia em mim."